Inquestionavelmente
a umbanda nasceu em solo pátrio (Brasil),
abrigando influências religiosas indígenas, negras e brancas. Unem-se em suas
práticas, tal como está estruturada atualmente, em doutrina
mediúnico-espiritualista de terreiro, espíritos de caboclos, pretos velhos e
crianças, além de todas as outras formas e "raças" espirituais que as
entidades do plano astral utilizam para fazer a caridade, tendo em vista que a
umbanda é guindada à universalidade no intercâmbio mediúnico, preponderantemente
com influência africanista, em seu aspecto positivo, benfeitor.
É o contrário da rotina fetichista e
atávica dos ritos de alguns terreiros eminentemente de cultos africanos e
indígenas já distorcidos dos rituais ancestrais
das nações e tribos originais de que são procedentes, o que podeis
denominar práticas mágicas populares, que não se enquadram nas
"normas" do culto umbandista ditadas pelo missionário e luminoso
Caboclo das Sete Encruzilhadas, particularmente quanto à gratuidade, dispensa
de oferendas votivas com sacrifícios animais e não-utilização de sangue
ritualístico.
Respeitosamente, e sem excluir
nenhuma forma de mediunismo que almeja a caridade com o Cristo, diante da
saudável diversidade da umbanda, faz-se necessário, neste momento da formação
da consciência coletiva umbandista, distinguirdes as práticas mágicas
populares, distorcidas diante das leis de causalidade que regem a harmonia
cósmica, do verdadeiro movimento de umbanda, que se espraia na Terra provindo
do Espaço com a finalidade de interiorizar nos corações o "espírito"
da caridade.
As
normas de culto ditadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas servem como
balizadores àqueles que estão em dúvida sobre se os terreiros que freqüentam
são amparados ou não pela Divina Luz. Está
claro que toda sorte de mediunismo tem um valor diante da inexorável evolução
dos seres, desde que a cada um seja dado em conformidade com seu merecimento e
afinidade, necessidade de retificação e capacidade de assimilação, nada se
perdendo do rumo do Pai.
Ao público
espiritualista que nos é simpático; impõem-nos os compromissos assumidos com os
Maiorais do Espaço para ditar elucidações ampliando o discernimento das
coletividades encarnadas que nos lêem.
Assim,
esclarecemos que há tipos de rituais confundidos
com a umbanda que vão desde a pajelança, um tipo de xamanismo brasileiro em que o pajé incorpora em transe
ritual com beberagem de ervas; o tambor de mina, em que se misturam
cultos de diversas nações africanas com a pajelança para dar passagem às entidades
de cura e para "tirar" feitiço; o catimbó, em que a fumaça da queima de certas folhas oferece êxtase, dando
poderes "sobrenaturais" ao pajé e colocando-o em comunicação com os
espíritos; o ritual de jurema, em que os "juremeiros" manifestam
índios ousados, violentos e ardilosos ostentando enfeites de penas, cocares,
tacapes, arcos-e-flechas, dançando em rito exterior que arrebata as populações
carentes de assistência social e à saúde, com suas ervas e raízes curativas
apresentando proezas fenomênicas entre fogo, brasa e cacos de vidros; bem como os
rituais africanistas descaracterizados das matrizes ancestrais das
antigas nações.
Não
vos iludais com as aparências espirituais, em que espíritos com formas
astrais símiles aos da verdadeira umbanda nas apresentações e completamente
diferentes de sua essência caritativa, alimentam-se energeticamente em ritos
"iniciáticos" sanguinolentos, regalados entre danças e
acepipes de pedaços de animais sacrificados e farofas,
finamente temperados, que enchem as covas estomacais qual enterro famoso em
átrio sepulcral, tudo pago para o bem-estar dos médiuns e consulentes.
Afirmamos que nada disso é umbanda,
enquanto movimento plasmado pelo Cristo Cósmico, que se irradia para a crosta
terrícola do Astral superior.
Umbanda é uma verdade que independe
da vontade e das suscetibilidades feridas de lideranças sacerdotais que
conspurcam seu nome sagrado com práticas
que não são condizentes com a caridade referendada no Evangelho de Jesus.
Por outro lado, reconhecemos a existência
de variados ritos, usos e costumes na umbanda; alguns um tanto fetichistas,
outros um pouco distorcidos: aqui um grito exagerado, ali uma apoteose
dispensável, acolá um médium envaidecido com o guia "infalível", o
consulente desejoso do milagre em seu favor, doa a quem doer. O hábil jardineiro do tempo extrai
delicadamente os espinhos para não ferir as mãos. Nem tudo são belas e perfumadas rosas no jardim dos orixás. No
atual movimento umbandista, isso é explicável pelo fato de não termos
padronização ritualística ou codificação, o que, por sua vez, acaba
"enxotando" os dogmas, tornando o movimento dinâmico e sempre
evoluindo, como tudo no Cosmo. Oxalá e seus ditames prevêem o equilíbrio nessa
diversidade.[5]
[5]
Da obra Fundamentos de Teosofia, de C.
Jinarajadasa
Diz-nos Ramatis: "Enquanto não
praticardes o espírito de cooperação e respeito fraterno entre as religiões e
doutrinas da Terra, possivelmente continuareis retidos no ciclo vicioso das
reencarnações sucessivas. O que rejeitais e excluís com o fel do
preconceito de hoje influencia decisivamente o que, onde e como voltareis ao
vaso carnal no futuro. Cooperação e
respeito fraterno sem exclusões - que não vos leve a ter receio de indicar
o que não é umbanda, pois é convivendo em harmonia nas diferenças que
amadurecereis espiritualmente. Os prosélitos que vos agridem, quando assim vos
intuímos, não se mostram consciências preparadas para interiorizar e sentir a
essência que sustenta a umbanda: fazer a caridade".
É oportuno registrar que os costumes africanistas tribais de
religiosidade ancestral aportaram no
Brasil com acentuadas distorções de suas
práticas originais. Já eram atacados pela Inquisição antes de as levas
de escravos capturados serem jogadas nos fétidos porões das naus portuguesas.
Via de regra, isso foi intensificado aqui pela continuidade da opressão do
clero, que redundou em várias outras adaptações, com raras exceções que
conseguiram manter os ritos primários incólumes.
Impôs-se uma necessidade de
sobrevivência da população negra explorada, "liberta" com a Lei
Áurea, que ficou excluída do contexto social e entregue à própria sorte, sem
nenhum apoio do Estado monárquico, que se curvava ao controle de um catolicismo
arcaico e perseguidor (ambos se beneficiaram da pujança econômica oferecida
pelo braço escravo). Finalmente livres, os negros se viram sem as moedas dos
patrões que os alimentavam, sem o mínimo para a manutenção de suas vidas. Foram, circunstancialmente,
"obrigados" a cobrar pela magia curativa que faziam gratuitamente aos
sinhôs e sinhás no recôndito das senzalas de chão batido.
Dessa vez,
estimulados pelos constantes pedidos dos próprios homens brancos que
furtivamente saíam das missas e procuravam as choupanas dos ex-escravos
alforriados, os quais subitamente se viram transformados
em ilustres magistas de aluguel.
Distorceram,
portanto, as leis divinas e deu no que deu: o vil mercantilismo religioso que viceja culturalmente em todos os
recantos desta nação atual, formando o carma grupal a ser queimado no futuro,
assim como foi no passado.
Afinal, quando nos vestimos com a
roupagem transitória de Pai Benedito, perfilado na linha de frente da umbanda,
não fazemos a magia branca de raiz, ancestral e originária do Congo, da Angola,
da Etiópia, do Egito ou dos velhos templos da Luz de nossa remota e saudosa
Atlântida?
A magia que praticamos do "lado
de cá", apátrida, referendada por leis cósmicas universais e imutáveis,
não é atingida pelas ilusões dos homens, que infelizmente se perpetuam, pelos
equívocos que passam de geração a geração, ao longo das encarnações sucessivas
nessa pátria verde e amarela.
Ramatis
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