Hoje já é sabido que mesmo antes de Zélio fundar a Umbanda, já havia em vários lugares do Brasil, a manifestações de espíritos de pretos velhos e indígenas praticando a caridade pelas senzalas e outros locais.
A família do rapaz, residente e
conhecida na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, ficou bastante
assustada com esses acontecimentos, achando, a princípio, que o rapaz
apresentava algum distúrbio mental repentino. Por isso, o encaminhou a um
psiquiatra que, após examiná-lo durante vários dias, sugeriu que o conduzissem
a um padre, pois os sintomas apresentados não eram encontrados em nenhuma
literatura médica.
O pai de Zélio, que era simpatizante
do espiritismo e costumava ler livros espíritas, resolveu levá-lo a uma sessão
na Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza, em que
o jovem foi convidado a ocupar um lugar à mesa. Então, tomado por uma força
estranha alheia à sua vontade, e contrariando as normas da casa que impediam o
afastamento de qualquer dos componentes da mesa, ele levantou-se e disse:
"Aqui está faltando uma flor". Em seguida, saiu da sala, dirigiu-se
ao jardim e retornou com uma flor nas mãos, que colocou no centro da mesa. Tal
atitude causou um enorme tumulto entre os presentes.
Restabelecidos os trabalhos,
manifestaram-se nos médiuns kardecistas
entidades que se diziam pretos escravos
e índios, ao que o dirigente da casa achou um absurdo. Então, os
advertiu com aspereza, alegando
"atraso espiritual", e convidou-os a se retirarem.
Após esse incidente, novamente uma
força estranha tomou o jovem Zélio e, através dele, falou: "Por que repelem a presença desses
espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. É por causa de
suas origens e de sua cor?".
Seguiu-se um diálogo acalorado. Os
responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito
desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium vidente
perguntou à entidade: "Por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que
a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau cultural que
tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala desse modo,
se estou
vendo que me dirijo a um jesuíta, cuja veste branca reflete uma aura
de luz? Qual é o seu verdadeiro nome, irmão?".
O espírito desconhecido então
respondeu: "Se querem um nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas,
pois para mim não haverá caminhos fechados. O que você vê em mim são resquícios
de uma encarnação em que fui o padre Gabriel Malagrida. Acusado de
bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição, em Lisboa, no ano de 1761.
Mas, em minha última existência física, Deus me concedeu o privilégio de
reencarnar como um caboclo brasileiro".
Prosseguindo, a entidade revelou a
missão que trazia do Astral: "Se julgam atrasados os espíritos de pretos e
índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho,
às 20 horas, para dar início a um culto em que esses irmãos poderão transmitir
suas mensagens e cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será
uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve haver
entre todos, encarnados e desencarnados".
O vidente retrucou com ironia:
"Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?". Ao que o
espírito respondeu: "Cada colina da cidade de Niterói atuará como
porta-voz, anunciando o culto que será iniciado amanhã".
Para
finalizar, o caboclo completou:
"Deus, em Sua infinita bondade, estabeleceu na morte o grande nivelador
universal. Rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais perante o
desenlace, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer
diferenças entre os vivos, procuram levar essas diferenças além da barreira da morte.
Por que não poderiam nos visitar esses humildes trabalhadores do Espaço, se,
apesar de não terem tido destaque social na Terra, também trazem importantes
mensagens do Além?".
No dia seguinte, na casa da família
Moraes, na Rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada,
estavam reunidos os membros da Federação Espírita, os parentes mais próximos de
Zélio, amigos e vizinhos, para comprovarem a veracidade do que fora declarado
na véspera, e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.
Às 20 horas em ponto, manifestou-se
o Caboclo das Sete Encruzilhadas, para declarar que naquele momento se iniciava
um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos escravos e de índios
brasileiros, os quais não encontravam campo de atuação nos remanescentes das
seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de
feitiçaria, trabalhariam em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que
fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.
A prática da
caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica
principal do culto que teria por base o Evangelho de Jesus.
Desse modo, o caboclo estabeleceu as
normas em que se processariam as sessões: os participantes estariam uniformizados
de branco, o atendimento seria gratuito e diário. Deu também nome ao
movimento religioso, que passou a se chamar
"umbanda", uma manifestação do espírito para a caridade.
A
casa de trabalhos espirituais que ora se fundava foi chamada de Nossa Senhora da Piedade,
pois assim como Maria acolheu o filho nos braços, ali também seriam
acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.
Ditadas as bases do culto, após
responder em
latim e alemão às perguntas dos sacerdotes presentes, o Caboclo das
Sete Encruzilhadas passou à parte prática dos trabalhos: foi atender um
paralítico, fazendo-o ficar totalmente curado, além de prestar socorro a outras
pessoas presentes.
Nesse mesmo dia, Zélio incorporou um
preto velho chamado Pai Antônio,
aquele que, com fala mansa, foi confundido com uma manifestação de loucura de
seu aparelho. Com palavras de muita sabedoria e humildade, e uma timidez
aparente, recusava-se a sentar-se junto com os componentes da mesa, dizendo as
seguintes palavras: "Nêgo num senta não, meu sinhô; nêgo fica aqui mesmo.
Isso é coisa de sinhô branco, e nêgo deve arrespeitá".
Depois da insistência dos presentes,
a entidade respondeu: "Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é
lugá di nego".
Assim, continuou dizendo outras
palavras que demonstravam a sua humildade. Uma assistente perguntou se ele
sentia falta de algo que havia deixado na Terra, ao que o preto velho
respondeu: "Minha caximba. Nêgo
qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca".
Tal afirmativa deixou a todos
perplexos, pois presenciavam a solicitação do primeiro elemento de trabalho
para a religião recém-fundada, pois foi Pai Antonio a primeira entidade a solicitar
uma guia, até hoje usada pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de
"Guia de Pai Antonio".
No dia seguinte, uma verdadeira
romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos e outros
necessitados iam em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus. Médiuns,
cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios
e deram provas de suas qualidades excepcionais. A partir daí, o Caboclo das
Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento,
difusão e sedimentação da umbanda. Além de Pai Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo Orixá Malé,
entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.
Em 1918, o Caboclo das Sete
Encruzilhadas recebeu ordens do Astral superior para fundar sete tendas para a propagação da umbanda. As agremiações
ganharam os seguintes nomes: Tenda
Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição,
Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá,
Tenda Espírita São Jorge e Tenda Espírita São Jerônimo. Enquanto Zélio
estava encarnado, foram fundadas mais de 10 mil tendas, a partir das
mencionadas.
Embora não tivesse dado continuidade
à carreira militar para a qual se preparara, pois sua missão mediúnica não o
permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão.
Trabalhava para o sustento da família, e diversas vezes contribuiu
financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas
fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos
espirituais, a qual, segundo dizem, mais parecia um albergue. Nunca aceitou ajuda monetária de ninguém;
era ordem do seu guia-chefe, embora tivesse recebido inúmeras ofertas.
Obs.: É claro que antes de tudo isso espíritos de pretos velhos e índios já se manifestavam desde a época das senzalas, praticando a caridade ensinado pelo Cristo Jesus!
Obs.: É claro que antes de tudo isso espíritos de pretos velhos e índios já se manifestavam desde a época das senzalas, praticando a caridade ensinado pelo Cristo Jesus!
1
- Nota do médium: O texto que se
segue foi baseado em informações verídicas obtidas diretamente de fitas
gravadas pela senhora Lilian Ribeiro, presidente da Tenda de Umbanda Luz,
Esperança, Fraternidade (TULEF), que contêm os fatos históricos narrados,
possíveis de serem escutados na voz de Zélio de Moraes, manifestado
mediunicamente com o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 2 de novembro de 2005
visitamos dona Zilméia em sua residência, em Niterói, Rio de Janeiro,
oportunidade em que também conhecemos dona Lygia Moraes, respectivamente filha
e neta de Zélio, dando conhecimento a ambas do presente texto, do qual
obtivemos a confirmação sobre sua autenticidade e permissão para divulgá-lo.
Retirado do Livro Umbanda Pé no
Chão ,Um guia de estudos orientado pelo espírito Ramatís. Norberto Peixoto
Atualmente um casarao grande e ao lado um deposito de uma area industrial...
ResponderExcluir