Dança dos Orixás Jerry D'oxossi

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quinta-feira, 26 de março de 2015

42- SINCRETISMO NA UMBANDA. Algumas das influências e diferenças dos cultos africanos, da pajelança indígena, do catolicismo e do espiritismo.


ORIXÁS SINCRETIZADOS COM SANTOS CATÓLICOS

Sincretismo quer dizer "combinação de diversos princípios e sistemas", ecletismo, amálgama de concepções heterogêneas. É o somatório de diferentes filosofias e fundamentos magísticos que tendem para uma igualdade, podendo ser diferentes na forma, mas semelhantes na essência.
 Por ser sincrética em seu nascimento e formação, a umbanda faz convergir para pontos em comum o que se apresenta sob diversas formas ritualísticas em todas as outras religiões do planeta. Ao contrário da opinião de zelosos religiosos, isso não a enfraquece doutrinariamente, não conspurca uma falsa pureza que outras religiões afirmam possuir e não a deixa menor do que qualquer culto ou doutrina mediúnica. Há de se comentar que a diversidade é da natureza universal, pois nada é igual no Cosmo, nem mesmo as folhas de uma única árvore. Assim, a umbanda se apresenta como a mais universalista e convergente das religiões existentes no orbe.

Também não podemos deixar de comentar o preconceito que ainda existe em relação à raça negra, particularmente a tudo o que é oriundo da África, o que se reflete irremediavelmente na passividade mediúnica. Esse atavismo acaba se impregnando nas pessoas que atuam na umbanda, pois ainda não somos perfeitos. Especialmente quanto à origem africana da umbanda (temos a origem indígena e a branco judaico-católico-espírita), lamentavelmente ainda persistem os ranços na busca de "pureza" doutrinária, como se tudo que viesse do continente africano fosse de um fetichismo sórdido e da mais vil magia negativa, o que não é verdade pois temos de ser fiéis à nossa história recente e à anunciação da umbanda na Terra. Se não fossem os africanos, não teríamos hoje a força e a magia dos orixás no movimento umbandista, embora saibamos que em muitas outras culturas esses conhecimentos se manifestaram, inclusive entre nossos índios, e, voltando no tempo, até na velha Atlântida. Porém, reportando-nos aos registros históricos mais recentes, sem sobra de dúvidas, foram os africanos que, no interior das senzalas insípidas e inodoras, inteligentemente sincretizaram os orixás com os santos católicos, perpetuando-os em berço pátrio até os dias de hoje. Vamos resgatar um pouco dessa origem, digna de todo nosso respeito.
           Na época da escravidão, houve um sincretismo afro-católico denominado cabula, principalmente nas áreas rurais dos estados da Bahia e Rio de Janeiro, que, segundo pesquisas históricas, são considerados os rituais negros mais antigos de que se em registro envolvendo imagens de santos católicos sincretizados com orixás, herança da fase em que os cultos africanos eram reprimidos nas senzalas, onde os antigos sacerdotes mesclavam suas crenças e culturas com o catolicismo, a fim de conseguir praticar e perpetuar sua fé. No final do século XIX, quando ocorreu a libertação dos escravos, a cabula já estava amplamente disseminada na nossa cultura como atividade religiosa afro-brasileira.
            Esse sincretismo foi mantido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas após a anunciação da umbanda como religião nascente, em 1908.
O surgimento e anunciação da umbanda, através da mediunidade de Zélio Fernandino de Moraes, forneceu as normas de culto para uma prática ritual mais ordenada, voltada para o desenvolvimento da mediunidade e da prática da caridade com base no Evangelho de Jesus, prestando auxílio gratuito à população pobre e marginalizada do início do século passado.
              Atualmente, podemos afirmar que é majoritária a presença dos orixás na prática doutrinária da umbanda. Inclusive cresce cada vez mais o culto com imagens simbólicas em formas originais africanas, pois o gradativo e crescente entendimento da reencarnação sugere à coletividade umbandista que é provável que muitos dos santos católicos já tenham reencarnado.
                 Algumas das influências e diferenças dos cultos africanos, da pajelança indígena, do catolicismo e do espiritismo:

               Cultuamos os orixás na umbanda; por isso, é importante enfatizar algumas diferenças cruciais em relação aos cultos das diversas nações africanas. Primeiramente, temos de ressaltar que a prática umbandista não é politeísta: acreditamos em um Deus único e inigualável, não importando muito se o seu nome é Zambi, Olurum ou simplesmente Pai. Os orixás são forças da natureza, energias cósmicas provindas do Criador. Portanto, não os incorporamos nem eles apresentam características humanas, como vaidade, ciúme, sensualidade e raiva. Não nos vestimos com as roupas dos deuses nem damos de comer aos "santos" incorporados, e eles também não aprendem a dançar conosco.
             Quem se manifesta nos terreiros de umbanda são espíritos desencarnados que têm afinidade com determinado orixá e formam as chamadas linhas vibratórias. Na maioria, são entidades que ainda irão reencarnar e que estão em aprendizado recíproco com seus médiuns. Como têm um compromisso coletivo a realizar, encontram no Astral oportunidade de aprendizado e evolução fazendo a caridade. Outras (a minoria), são mentores que não mais reencarnarão compulsoriamente no planeta, e, por possuírem um elevado amor, estão vinculadas à coletividade espiritual terrena nos auxiliando, assim como Jesus o faz desde épocas imemoriais.
             Na umbanda, a mediunidade é um processo natural, decorrente de uma ampla sensibilização fluídica do espírito do médium, antes do reencarne, de forma a facilitar a sintonia com as entidades que o auxiliarão e que têm compromisso cármico com ele. Então, é dispensável as camarinhas e os longos isolamentos para "deitar pro santo", os pagamentos pecuniários aos sacerdotes, a fim de obter ritos de iniciação, bem como os sacrifícios animais com cortes rituais na altura do crânio do médium para fixar "divindades" no chacra coronário. Também não é preciso dar comida à cabeça para firmar o guia nem "obrigações" de troca com o Sagrado, muito menos adotar procedimentos de imolação com derramamento de sangue para reforçar o tônus mediúnico, que são interferências ritualísticas existentes em outros cultos, mas não fazem parte dos fundamentos da umbanda.
           Todo o método de interferência e "acasalamento" medianímico entre aparelho encarnado e guia espiritual é natural e se concretiza após longa preparação entre encarnações sucessivas, conforme pôde ser comprovado pela manifestação límpida e cristalina da mediunidade em Zélio de Moraes, que, em tenra idade física, recebeu o Caboclo das Sete Encruzilhadas, numa expressão de mediunismo espontâneo e inequívoco.  
          Temos na origem africana da umbanda consistente fundamentação, especialmente a do conhecimento dos orixás, dos elementos, das ervas, dos cânticos, enfim, da magia. Foi pelo sincretismo entre a religiosidade africana e o catolicismo que os fundamentos dos orixás se mantiveram ao longo dos tempos no Brasil, embora, voltando ao passado remoto, à época da submersa Atlântida, cheguemos a esses mesmos ensinamentos sagrados, detectando que a essência em suas semelhanças foi mantida, ainda que tenha havido uma enorme diversidade de culto na história das religiões. Inquestionavelmente, se não fossem os africanos trazidos para solo pátrio não teríamos os orixás na umbanda atual.


                 A pajelança indígena é um termo que designa as diversas manifestações mediúnicas dos índios brasileiros. Geralmente é realizado um ritual em que o sacerdote (pajé) entra em contato com espíritos de ancestrais e de animais, com a finalidade de cura e resolução de problemas da tribo. Nessas sessões, podem ser tomadas infusões de ervas ou fumadas determinadas folhas que facilitam o desdobramento astral, fazendo com que o medianeiro ingresse no mundo dos espíritos de forma induzida e não natural. Obviamente temos muito da herança silvícola na umbanda, mas não utilizamos recursos alucinógenos para a manifestação dos espíritos.

Pajé indígena brasileiro


Pajé indígena em ritual de cura
             Verificamos ainda uma pajelança cabocla, com diversos nomes, difundida na Amazônia e no nordeste do Brasil que se "umbandiza" aos poucos. Existem fragmentos rituais do catolicismo popular, rico em ladainhas, do xamanismo indígena, com beberagens, e, infelizmente, os indispensáveis sacrifícios (ebós) preponderantemente provindos das nações africanas, de maneira geral ritos locais conhecidos como Catimbó, Tambor de Mina, Jurema e Toré, que dão ênfase ao tratamento de doenças e consolo psicológico às populações carentes (cura, arrumar emprego, amor, alimentto etc.), as quais, em muitos casos, só encontra nas práticas mágicas populares a possibilidade de realização de seus anseios diante de uma vida sofrida. Observamos que esses ritos se distanciam da umbanda quando cobram, matam animais, não respeitam o livre-arbítrio e estabelecem uma relação de troca com os espíritos, "facilitando" a vida dos carentes que os procuram para um escambo de benesses. Por outro lado, muitos pretos velhos e caboclos missionários, que são como bandeirantes andarilhos de Jesus, vão consolando e falando do Evangelho do Divino Mestre nesse meio ritual, um tanto anárquico e fetichista, de maneira a acalmar a urgência dos filhos de fé em verem atendidos os seus pedidos e despertá-los para as verdades espirituais que ensinam: "a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória".
          Quanto ao catolicismo, urge esclarecer que os santos católicos já devem ter reencarnado animando outras personalidades na matéria. Acreditamos, respeitando as diferenças e a necessidade cármico-evolutiva de cada terreiro, que as imagens africanas dos orixás são mais originais e afins à umbanda do que qualquer outra. Basta olhar um ogum africano, simbolizando o orixá em seus atributos ancestrais que se perpetuam no tempo, independentemente de uma individualidade, para comprovarmos a oceânica diferença de São Jorge, um espírito que encarnou, mesmo sabendo da intensa adoração e força que a fé coletiva deposita nesse "santo".
            Diante disso, é impensável não cultuar na umbanda o São Jorge dos católicos, em cima do cavalo, com espada em punho subjugando o dragão. Esse nosso modelo de interpretação se baseia principalmente na associação feita na época da escravatura entre os santos católicos e os orixás, em decorrência da proibição religiosa de culto que os africanos sofreram. Hoje, no entanto, num ambiente de liberdade, devemos manter o sincretismo católico de acordo com fé de cada grupo, porém conscientes das leis universais de reencarnação que imputa aos espíritos santificados na Terra a abençoada reencarnação, acima dos separatismos causados pelos dogmas religiosos.

             Outro aspecto do catolicismo presente em muitos terreiros são sacramentos como o batismo e o casamento, e até as procissões em vias públicas, como as habituais festividades para Ogum e Iemanjá que coincidem com o calendário católico - a nosso ver, práticas do catolicismo amalgamadas em uma parte significativa da umbanda, assim como era comum antigamente os filhos de africanos e índios catequizados freqüentarem ao mesmo tempo tanto a igreja como os cultos de suas nações e tribos. A aplicação desses sacramentos e também das chamadas iniciações ritualísticas é que acaba por criar uma casta sacerdotal que vive da religião, cobrando pelos serviços prestados. Lembremos que Jesus fazia tudo de graça.
 
imagens de Santos católicos
            No tocante ao espiritismo, a diferença básica, sem dúvida, é a ausência de ritual nos centros espíritas, os quais estão presentes na umbanda em abundância, e até de maneira anárquica e diversificada, ao contrário da rígida padronização existente no movimento espírita ortodoxo. Entendemos que as semelhanças se dão quanto ao apelo caritativo, à mediunidade, à aceitação da reencarnação e da pluralidade dos mundos habitados, entre outras verdades universais. Entretanto, a maior semelhança entre ambas é a presença de Jesus, que na umbanda é sincretizado com o orixá Oxalá. Por isso, ao anunciar a nova religião, o Caboclo das Sete Encruzilhadas associou-a ao Evangelho. Teria sido acaso a presença dos ensinamentos do Cristo num ambiente religioso em que se cultua os orixás? Responderemos este assunto mais adiante.
            
 O autor conclui : queremos dizer que nossa intenção não é recomendar uma prática de umbanda purista, mas sim fortalecer sua identidade, suas raízes ancestrais, inseridas num contexto social e psicológico atual, livre de perseguições e preconceitos religiosos, num ambiente de saudável diversidade, em que as diferenças devem unir e as semelhanças fortalecer. A umbanda sobressai em relação a outras religiões, pois se adapta às consciências nas localidades geográficas onde se expressa, dando o tempo necessário, de acordo com a capacidade de compreensão de cada coletividade envolvida pelo manto da sua caridade, ao crescimento espiritual, sem julgamentos belicosos ou imputação de dor e sofrimento como formas de crescimento. Por sua ampliada universalidade, atrai para si outras religiões, fazendo com que o entendimento de cada consciência encontre referências rituais em seus terreiros, tal como uma costureira que alinhava vários retalhos numa mesma colcha. A umbanda resgata o consolador crístico, assim como Jesus fez em Suas andanças terrenas, e não imputa aos seus prosélitos que "fora de sua seara não há salvação".

texto retirado do Livro Umbanda Pé no Chão, Norberto Peixoto.

Sincretizado com Jesus
Iemanjá sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes,
ou Nossa Senhora da Conceição, ou ou Nossa Senhora das Graças

Nanã Buruquê, sincretizada com Santa Ana


Xangô , sincretizado com São Jerônimo
Oxum, sinsretizada com Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora Aparecida
Oxossi sincretizado com São Sebastião
Omulu sincretizado com São Roque e Abaluaiê sincretizado com São Lázaro
Ogum, sincretizado com São Jorge
Iansã ou Oyá, sincretizada com Santa Bárbara
Cultuamos na Umbanda Cosme Damião e Doum, na Linha das crianças ou êres

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