"Quando Jesus
enunciava que "muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas serão tomadas àqueles a quem
mais coisas se haja confiado", (Lucas, 12: 47,48), provavelmente o seu augusto pensamento
referia-se também ao exercício da mediunidade. Sem dúvida, o médium natural, o
intuitivo puro, que já possui o tesouro espiritual da intuição angélica, é aquele que
mais recebe por
mérito de sua maturidade e a "quem muito se pedirá". Mas ao médium de prova, embora seja
pobre espiritualmente, "maiores
contas lhe serão tomadas", pois também "mais coisas lhe são conferidas" no serviço
mediúnico, para ressarcir os seus pecados
pregressos.
Mas
não é propriamente a posse prematura da faculdade mediúnica o motivo responsável pelo fracasso muito comum de alguns médiuns em prova
na matéria. Isso é mais conseqüente de sua imperfeição ou contradição espiritual, pois o médium, em geral, é
espírito que decaiu das posições privilegiadas do passado, sendo ainda muito apegado à
sua personalidade humana transitória. Deste modo, ele subestima a
transcendência dos fenômenos que se processam por seu intermédio e os considera
mais como produto exclusivo de sua
vontade e capacidade mental.
Embora
muitos médiuns sejam inteligentes e mentalmente desenvolvidos, o orgulho, a vaidade, a ambição, a
prepotência, a
cupidez ou a leviandade ainda os fazem tombar de seus pedestais frágeis, porque
se crêem magos excepcionais ou indivíduos de poderes extraordinários para a produção de fenômenos extemporâneos ou
revelações incomuns. A Terra ainda é pródiga de magos de feira, curandeiros mercenários ou iniciados sentenciosos
que, através de rituais extravagantes, atraem e exploram as multidões ignorantes. São verdadeiros "camelôs"
da espiritualidade que, beneficiados pela graça mediúnica concedida pelos espíritos
benfeitores, exploram-na
sob o disfarce da magia ou dos poderes esotéricos, mas sempre evitando a disciplina do
Espiritismo que, sem
dúvida, lhes exigiria conduta ilibada e o absoluto desinteresse no trato das coisas espirituais.
Entretanto,
chega o momento em que eles são atingidos em cheio pela Lei Sideral, que lhes estanca a exploração
do veio aurífero da
mediunidade a serviço do comércio indigno e dos interesses pessoais. E assim terminam os seus dias
sob terrível
humilhação espiritual e sofrendo as agruras do mau emprego dos favores concedidos pelo Alto.
......
A
mediunidade,
realmente, é um desses talentos que os gênios do Bem concedem aos espíritos
endividados e que necessitam urgente de sua própria reabilitação espiritual. No entanto,
ela pode desaparecer a qualquer momento, desde que o seu portador a conspurque na Terra para
satisfazer sua vaidade ou obter proventos ilícitos. A nenhum médium é facultado servir-se
da mediunidade para
o seu uso exclusivo ou aproveitamento egocêntrico, nem expô-la em público na feição de tabu de negócios. É também um dos
talentos concedidos por Deus a seus filhos, tal como ensinou Jesus na sua parábola de admirável ensinamento espiritual (Mateus, 25: 14-30).
......
Os
valores legítimos da faculdade mediúnica, quando são desenvolvidos e praticados com o Cristo, não produzem as quedas e
as humilhações que abalam a vida
tumultuosa dos médiuns imprudentes.O médium, como instrumento fiel da vontade
do Senhor, revelada no mundo de formas,
elabora um dos piores destinos para
o futuro quando, pela sua negligência ou má-fé, subverte o programa espiritual que prometeu divulgar à superfície da Terra. Há sempre atenuante
para aquele que peca por ignorância,
mas é indigno da tolerância quem o
faz deliberadamente, depois de haver-se comprometido para a efetivação de um serviço que diz respeito
ao bem de muitas outras criaturas."
Ramatis
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